Análise Arkade: O surpreendente terror aleatório de Visage

27 de novembro de 2020
Análise Arkade: O surpreendente terror aleatório de Visage

P.T. a lendária demo do cancelado Silent Hills, criada por Hideo Kojima, foi lançada lá em 2014 e ficou no ar por pouco menos de 1 ano, quando a Konami cancelou o projeto e retirou a demo da PS Store, seguido da saída de Kojima da produtora após o lançamento de Metal Gear Solid V: The Phantom Pain.

E anos após seu lançamento e cancelamento, a demo ainda mantém uma influência bem forte. E Visage, da SadSquare Studio, é um novo game inspirado em P.T.. E chegou a hora de vermos como ele acabou se saindo!

Uma casa habitada por traumas

Análise Arkade: O surpreendente terror aleatório de Visage

Visage é um game que desde seu primeiro segundo conta uma história bem misteriosa. O jogador acorda dentro de uma casa, sem saber nenhuma informação sobre o nome do protagonista, quem ele é e nem nada mais. Isso após uma impressionante e bem violenta introdução.

A partir daí, o jogador pode sair explorando parte da casa livremente (novas áreas são abertas ao achar as chaves de suas portas). E para dar início na história, o jogador deve interagir com itens escondidos à vista, que dão início à seus capítulos. São três capítulos, cada um contando uma história diferente sobre antigos residentes daquela casa, que passaram por situações horríveis.

Análise Arkade: O surpreendente terror aleatório de Visage

Ao iniciar um capítulo, vários eventos começam a ocorrer na casa, guiando o jogador em sua exploração para chegar até o fim de cada uma de suas histórias. E quanto mais o jogador descobre o passado daquela casa, mais e mais as coisas vão ficando perigosas.

O macabro terror “procedural”

Análise Arkade: O surpreendente terror aleatório de Visage

O grande diferencial de Visage é tomar inspirações de outro game de terror bem conhecido: Amnesia: The Dark Descent. O game possui um sistema de sanidade, que faz com que o protagonista vá enlouquecendo se estiver em situações estressantes ou presenciar muitos eventos sobrenaturais.

O mais legal é que todos os eventos sobrenaturais do game são totalmente aleatórios, o que realmente causa grandes sustos! Luzes piscando ou apagando, portas se abrindo ou fechando, TVs e rádios ligando do nada, barulhos de passos e batidas, lâmpadas explodindo, tudo isso acontece aleatoriamente enquanto o jogador explora a casa.

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Presenciar tudo isso, além de ficar no escuro, aumenta o stress do protagonista, identificado por uma mancha vermelha no canto da tela. E quanto mais stress, mais a sanidade cai, identificada por um ícone de cérebro, que quanto mais visível, pior está seu estado mental.

Com a sanidade baixa, o protagonista começa a sofrer bastante, os eventos sobrenaturais se tornam mais frequentes e dificultam a navegação. Não há uma verdadeira “punição” para sanidade baixa, mas o grande aumento de evento sobrenaturais torna tudo bem mais complicado. E para se curar nesses casos, o jogador deve tomar pílulas, que recuperam a sanidade, mas não fazem todo o trabalho. Se precisar, tome uma pílula e fique num local iluminado até se acalmar.

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E como o escuro diminui a sanidade, o jogador precisa então permanecer na luz. Para isso o jogador deverá ligar interruptores de luz, trocar lâmpadas queimas e usar velas para iluminar ambientes. E há ainda diversos isqueiros pela casa, porém, apesar de oferecerem um pouco de luz, os isqueiros não impedem que a sanidade decresça, somente lâmpadas e velas fazem isso.

Inspirado em P.T. “até demais”

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P.T. foi uma experiência única em vários sentidos. A demo colocava o jogador para explorar um corredor em L que se repetia infinitamente, mas a cada novo loop, algo novo acontecia. E além dos diferentes eventos a cada loop, o jogador era perseguido pelo fantasmas de Lisa, que o matava de vez em quanto, em momentos bem assustadores.

Grande parte do apelo de P.T. era o mistério, colocando o jogador nesse loop sem qualquer noção sobre como sair de lá, com a premissa de fazer os jogadores se ajudarem para descobrir o que fazer. Visage pega essa ideia e a aplica de uma forma um tanto inconstante.

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Exploração é primordial no game. Assim, em grande parte do tempo você estará andando pra cima e pra baixo na casa em busca de itens ou evento para progredir na aventura. Porém, o game não te ajudará muito a descobrir o que fazer.

Existem “chamarizes” para indicar o caminho, como luzes piscando, portas que se trancam, objetos novos que aparecem e até fantasmas que te guiam. Além disso, existem fitas cassete de áudio e fitas VHS que fornecem dicas de onde ir, mas essas fitas são atreladas a capítulos específicos.

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Fitas VHS dão dicas de onde o jogador deve ir

Assim, há partes em que a progressão é fácil de entender, mas outras que são bem complicadas. Por exemplo as fitas VHS, algumas delas estão escondidas em lugares que o jogador passa diversas vezes, ao ponto que o jogador não vai querer re-explorar tudo novamente. Uma delas achei numa gaveta que sem razão aparente eu resolvi abrir, sendo que já havia aberto várias vezes.

Sendo justo, não é difícil saber o que fazer, mas em certos pontos o game oferece apenas dicas vagas, cabendo o jogador interpretá-las para descobrir para onde seguir. E é claro que a confusão é proposital, pois vagar pela casa nunca é seguro em nenhuma instância (exceto fora dos capítulos).

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E então chega o momento de falarmos do ponto mais importante de todos: O terror. Já expliquei sobre os eventos paranormais, que acontecem de forma aleatória e são grandes causadores de sustos, de forma genuína. E agora é hora de falar sobre o perigo real que há no game: Os fantasmas.

O game é dividido em três capítulos, cada um contando uma história. E cada um tendo o seu “vilão”. E bem, os fantasmas do game são realmente bem assustadores, também tendo um pouco de aleatoriedade em seus padrões.

Análise Arkade: O surpreendente terror aleatório de Visage

Quando você ouve passos ou sons de batida, e quando as luzes começam a piscar freneticamente, é porque há um fantasma muito perto de você. E sua única opção é fugir. Cada fantasma é diferente do outro, o que torna tudo muito macabro. Uma das fantasmas, Dolores, fica parada em corredores e portas e quando te persegue, fica “piscando”, aparecendo e desaparecendo até te alcançar e te matar.

Há um outro fantasma que é genuinamente aterrorizante, pois é invisível, a única forma de vê-lo é usando o flash de uma câmera fotográfica, que faz com que ele apareça por uma fração de segundo. Já o fantasma do capítulo 3 acaba não sendo muito assustador, mas sim irritante (falarei disso adiante).

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Visage começa muito forte. E os dois primeiros capítulos são realmente assustadores. Porém, como qualquer game de terror, o game perde seu efeito quando envolve padrões e repetição.

Quando você entende quando um fantasma ataca e quando o game oferece muitos objetivos repetidos, você perde o medo. Se você morrer, é só dar load novamente e repetir o que estava fazendo, dessa vez mais rápido ou corrigindo algum erro anterior. Isso é algo natural em qualquer game de terror, pois quando o elemento surpresa é retirado, não assusta mais.

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O problema de Visage é que há momentos de muita repetição. O primeiro capítulo, Lucy, começa de forma muito forte, mas em seus momentos finais, quando perigo é extremo, as coisas ficam sem graça, pois o fantasma te mata tantas vezes que se torna chato ver a animação de morte de novo e de novo (aliás, as animações de morte são um tanto demoradas). Assim, eu acabei simplesmente correndo sem me preocupar, pois já havia descoberto o que fazer e só precisava não morrer.

Já o capítulo 3, Rakan, para mim não foi tão assustador (mas teve vários momentos bem tensos), por conta de seu estilo, que repete um trecho várias vezes e cada vez de forma mais demorada, até que o jogador o termine. Isso me deixou cansado, ao ponto de eu não ligar mais para o perigo.

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Dessa forma, a “curva de medo” se mantém no topo nas primeiras horas de jogo, mantendo-se forte no primeiro e segundo capítulos, mas ela cai no terceiro capítulo. E sofre bastante quando rola esses momentos de repetição. Apesar disso, o sistema de eventos aleatórios foi um grande acerto do game que merece todos os elogios.

E em termos de gameplay, o foco do game está totalmente na resolução de puzzles. Você pode basicamente andar, correr (bem lentamente), agachar e interagir com objetos. O jogador possui dois inventários: Um dinâmico, usado para armazenar itens “utilitários”, como isqueiros, velas, pílulas e lâmpadas. Esse inventário é limitado, fazendo o jogador manejar bem seus itens. E um inventário de itens chave, que é bem maior e guarda itens importantes, como chaves, itens de puzzles e etc.

Audiovisual

Análise Arkade: O surpreendente terror aleatório de Visage

Visage nunca guardou segredo quanto a suas inspirações, tanto que se passa dentro de uma casa luxuosa, semelhante a P.T.. Os cenários do game são bem construídos, com muitos detalhes em paredes, obras de arte, chão e objetos.

O game não é fotorrealista como P.T. mas possui um visual bem feito, apesar de que alguns elementos como espelhos e alguns contrastes entre paredes, como dentro de um banheiro, pareçam bem artificiais e “coladas” umas nas outras. Já a iluminação é excelente. O escuro é realmente escuro, e luzes artificiais não iluminam todas as áreas dessa imensa casa.

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Por outro lado, os personagens do game possuem visuais mais simplórios e um pouco estranhos. Porém, as circunstâncias em que você os encontram são em momentos chaves ou quando você morre. E bom, estar cara a cara com eles não é tão assustador assim. Exceto com os fantasmas do capítulo 1: Lucy. Esses realmente são macabros.

Na parte sonora o game manda muito bem na criação de tensão ambiental. Como já mencionado, ha vários sons por toda a casa, barulhos de passos ao longe, portas abrindo e fechando, rádios e TVs que ligam e desligam sozinhos.

Análise Arkade: O surpreendente terror aleatório de Visage

A maior parte do game se passa em silêncio, apenas com esses sons, as músicas variam de melodias lentas e melancólicas a sinfonias de caos com vários instrumentos, tocando em momentos importantes da narrativa ou quando você está perigosamente perto de fantasmas. Assim, aquele velho recurso de games de terror em que quando a música para, você está a salvo, também vale aqui.

O game conta com localização em português, porém em português de Portugal, em seus textos, menus e legendas.

Conclusão

Análise Arkade: O surpreendente terror aleatório de Visage

Como definir Visage sem citar P.T.? Não há como. O game ao mesmo tempo se inspira demais e segue seu próprio caminho, através de diferentes pontos. Por um lado, os eventos aleatórios são incríveis. Por outro, a excessiva confusão e repetição de trechos acaba cansando rápido, não atingindo o mesmo efeito de P.T.

Mas no fim, Visage é uma grande experiência de terror, que certamente vai te causar alguns bons sustos e talvez até um frio na espinha ao andar no corredor de sua casa de noite. E se você jogou e gosta de P.T., então dê uma chance ao game!

Visage foi lançado no dia 30 de outubro para Playstation 4 e Xbox One. E o game também está disponível nos PCs via Steam.

Renan do Prado

Amante de Metal Gear, platinador de Soulsborne e exímio jogador online (quando o lag não atrapalha).

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