Editorial: The Last of Us precisa de um remake no PS5?
Nesta última sexta-feira, fomos surpreendidos por uma notícia curiosa: a Naughty Dog supostamente está trabalhando em um remake do primeiro The Last of Us.
Contextualizando
A notícia é da Bloomberg, mais especificamente do jornalista Jason Schreier, um dos jornalistas de games mais conceituados do mundo atualmente, e sempre tem fontes “quentes”.
Segundo o artigo, o remake de The Last of Us usa o codinome T1X e foi iniciado por Michael Mumbauer, fundador do Visual Arts Service Group, um estúdio interno um tanto “desconhecido”, menor, que costuma ajudar no desenvolvimento de jogos da PlayStation Studios, mas nunca produziu nada que leve sua assinatura.
O projeto T1X já estava em estado avançado de desenvolvimento, mas Herman Hust, chefe do PlayStation Studios, supostamente considerou o projeto muito caro.
Porém, depois disso, a Sony teria movido vários desenvolvedores da Naughty Dog para dar continuidade ao projeto T1X, tornando o remake de The Last of Us um projeto oficial da Naughty Dog/Playstation Studios.
O responsável inicial do projeto, Michael Mumbauer, já teria se desligado da empresa — junto com boa parte do time do Visual Arts Service Group, mas o remake (supostamente) segue em desenvolvimento, afinal, a IP pertence à Sony e à Naughty Dog.
Mas, The Last of Us precisa de um remake? Levantei algumas perguntas aqui para nos ajudar a avaliar essa situação:
O jogo é difícil de conseguir?
Não.
Remakes de videogames deveriam ter um propósito de preservação histórica, de manter vivo o legado de um jogo que, por alguma razão, não pode mais ser obtido ou jogado em sua plataforma original.
Por exemplo: recentemente a Sony confirmou que vai encerrar as lojas virtuais do PSP, do PS3 e do PS Vita. Isso quer dizer que, alguns jogos que foram lançados apenas para essas plataformas — e exclusivamente em formato digital — não poderão mais ser adquiridos após julho/agosto.
Quando uma plataforma deixa de ser fabricada, ou torna-se item de colecionador, relançar os jogos dela para outras plataformas é algo justificável: é importante que as pessoas continuem tendo acesso aos jogos em plataformas mais atuais para manter esses títulos vivos.
O valor cultural dos emuladores
É por isso que a emulação é importante: deixando de lado a questão da pirataria, a emulação ajuda a manter vivos títulos de décadas atrás. Quem não é colecionador ou entusiasta merece poder curtir games de Atari, Master System, Nintendinho e tantos outros consoles antigos, mesmo sem ter os equipamentos originais — haja grana para ter todos os consoles, cartuchos e acessórios necessários.
Isso não quer dizer que pirataria é algo bom (para a indústria), mas seria hipocrisia minha dizer que nunca usei um emulador. Emuladores são práticos e acessíveis: uma viagem no tempo que está a um clique de distância.
Emuladores conseguem até melhorar a experiência de um jogo antigo, pois acrescentam “regalias” como save state, filtros de imagem e, em alguns casos, rodam jogos clássicos melhor do que suas plataformas originais — com resoluções mais altas e framerate mais estável, por exemplo.
Mas, reforço: esse argumento é válido para jogos de 20, 30 anos. The Last of Us é um jogo de 2013, ainda nem tem 10 anos de vida. E, é um jogo que pode ser adquirido muito facilmente: está disponível no PS3, foi remasterizado no PS4 e pode ser jogado via retrocompatibilidade no PS5. É um jogo que pode ser encontrado (por preços muito acessíveis) tanto em disco quanto digitalmente.
As mecânicas envelheceram?
Não muito. É fato que The Last of Us Part II tem uma jogabilidade mais fluida, mas no geral as mecânicas continuaram as mesmas. Houve algumas adições, claro, mas no geral, o que já funcionava no primeiro jogo foi lapidado para acompanhar a evolução natural que houve de 2013 para 2020.
O primeiro The Last Of Us envelheceu pouco, e envelheceu bem. Ainda é perfeitamente jogável. Não tem nada ali que tornou-se problemático ou obsoleto de 2013 para cá. Mecanicamente, tudo ainda funciona.
Um remake tão cedo só seria válido se trouxesse uma mecânica de jogo muito diferente da original. Algo como a Capcom fez com Resident Evil 2 Remake, que abandonou a câmera fixa e o controle tipo “tanque” para oferecer visão em terceira pessoa, o que transforma totalmente a experiência de jogo — e aumenta a imersão.
Se tomarmos como base os principais remakes da Sony — como Shadow of the Colossus e o recente Demon’s Souls, por exemplo –, vemos que a empresa tende a respeitar ao máximo o feeling do produto original. Então, este suposto remake provavelmente não agregaria muita coisa, em termos de mecânicas.
O visual envelheceu?
Definitivamente não. The Last of Us foi lançado no finzinho da geração PS3, ou seja, já aproveitou ao máximo o potencial do console. A versão remasterizada ainda foi lá e deu um belo upgrade no jogo, roda muito bem e é capaz de bater de frente mesmo com jogos que foram lançados mais recentemente.
A Naughty Dog é uma empresa muito caprichosa em termos de design, direção de arte e modelos de personagens. Mesmo o primeiro Uncharted, que é lá de 2007, já sente mais o peso da idade, mas está longe de ser datado ou feio demais, e ainda é perfeitamente jogável.
Lembrando que remake não é reboot: o que fizeram com Tomb Raider, por exemplo, serviu para reapresentar a personagem em uma nova aventura — e faz isso aproveitando toda a evolução tecnológica que ocorreu. A Lara Croft de hoje não é a mesma dos anos 90. The Last of Us não precisa nem de remake, nem de reboot.
Cadê a criatividade?
Acho que o principal problema desse suposto remake, porém, é que ele pode estar podando consideravelmente a criatividade de uma empresa que entregou alguns dos melhores jogos da família Playstation.
Se a gente analisar, a Naughty Dog está há 15 anos trabalhando basicamente com duas IPs: Uncharted e The Last of Us. São grandes franquias, ninguém duvida disso… mas que tal dar espaço para ela criar algo novo, original?
Os milhões de dólares que serão investidos neste tal remake seriam muito melhor aproveitados na produção de um jogo novo — que poderia, inclusive, virar uma nova franquia grandiosa para o Playstation. Injetar dinheiro neste remake significa NÃO injetar dinheiro em novas ideias — e manter um time talentoso preso no passado.
Resumindo…
Por tudo isso, não, The Last of Us não precisa de um remake. O jogo ainda é super atual, relevante e acessível do jeito que está. É possível achar a versão remasterizada em disco por cerca de 50 reais, e ele funciona muito bem. Upgrades visuais não são tão necessários em um jogo que ainda é recente (e bonito pra caramba).
Falo isso como um grande fã da franquia, que ama o primeiro jogo — e defende com unhas e dentes o valor de The Last of Us part II, apesar das polêmicas e de todo o hate que ele gerou. Adoro a franquia, mas quero ver a Naughty Dog trabalhando em coisas novas.
Mas é claro, que essa é só a minha opinião. E você, o que acha dessa história? The Last of Us precisa de um remake no Playstation 5?