Nintendo Switch supera 150 millhões de vendas: o que esse sucesso tem a nos dizer?

6 de fevereiro de 2025
Nintendo Switch supera 150 millhões de vendas: o que esse sucesso tem a nos dizer?

Um recente relatório divulgado publicamente em 04 de fevereiro de 2025 pela Nintendo relativo ao período fiscal do terceiro trimestre de 2024 aponta para números importantes no que se refere à vendas de consoles e jogos. Talvez o mais relevante destes dados seja o que repercutiu pela imprensa mundo afora de que o Nintendo Switch alcançou a marca espetacular de 150 milhões de unidades vendidas em todo o mundo.

A informação, obviamente, reacendeu debates e discussões acaloradas sobre a possibilidade real de se tornar o console mais vendido da história, título atualmente defendido pelo Playstation 2 (lançado no ano 2000), que segundo dados recentemente divulgados da Sony, vendeu algo em torno de 160 milhões de aparelhos. Entre ambos, ainda há o Nintendo DS, com suas nada modestas 154 milhões de unidades comercializadas.

Nintendo Switch supera 150 millhões de vendas: o que esse sucesso tem a nos dizer?

Como em qualquer tipo de discussão que envolva torcida e paixão, o consenso não é a maior das qualidades desse debate, e há controvérsias sobre o lado azul da força estar, nos últimos anos, inflando artificialmente ou não seus próprios números para evitar perder essa espécie de taça simbólica, mas é fato que não há muito o que fazer em termos de checagem da veracidade efetiva das informações divulgadas pelas próprias empresas. Na prática, são esses os dados que temos para trabalhar e especular.

O que isso significa?

De um modo ou de outro, as projeções indicam que se ainda não passou, provavelmente vai passar mesmo com a compreensível queda nas vendas na comparação com o mesmo período no relatório passado, e mais cedo ou mais tarde o sistema híbrido da Nintendo lançado em 2017 entrará para a história como o console mais vendido de todos os tempos. Ainda este ano, mesmo com a iminente chegada do Switch 2 nos próximos meses, ele deverá superar seu colega de casa DS e logo depois, o fenômeno que foi o PS2 em sua geração.

Porém, mais importante do que essas listinhas que servem para muito pouco além de alimentar a guerrinha entre fãs e detratores de uma ou outra fabricante nas redes sociais, é entender e refletir sobre o que esse sucesso avassalador significa para a indústria e quais são os indicativos que isso traz para um futuro próximo. Afinal, porque depois do fracasso retumbante do WiiU, o Switch conquistou o mundo?

Nintendo Switch supera 150 millhões de vendas: o que esse sucesso tem a nos dizer?

Uma máquina de vender exclusivos

Para dar mais tempero ao tema, outros dados importantes também presente nesse relatório: dos três jogos mais vendidos da plataforma, o primeiro e o terceiro são ports requentados do próprio WiiU. Enquanto Mario Kart 8 Deluxe vendeu absurdas 67,35 milhões de unidades na soma entre versões físicas e digitais (o que significa que pouco menos da metade das pessoas que tem o console adquiriram o jogo), Super Smash Bros. Ultimate chegou a incríveis 35,88 milhões de felizardos por todo o mundo.

O jogo original e exclusivo dessa geração que mais vendeu (ostentando a medalha de prata desse ranking) foi Animal Crossing: New Horizons, com 47,44 milhões de unidades vendidas no auge da plataforma, resultado que muitos atribuem como uma soma entre a qualidade invejável do game e as condições de isolamento que todos nós vivemos há alguns anos por conta da pandemia.

O restante do top 10 é compartilhado basicamente entre Zelda, Mario e Pokémon, para surpresa de ninguém, o que só atesta tudo o que já sabemos sobre a força das propriedades originais da Nintendo e como seu ecossistema funciona com um verdadeiro relógio suíço, retroalimentando a base instalada de uma forma relativamente tradicional, sustentável e bem ordenada.

Nintendo Switch supera 150 millhões de vendas: o que esse sucesso tem a nos dizer?

Estes resultados carregam em si um grande otimismo para o vindouro Nintendo Switch 2, plataforma que está apostando todas as suas fichas na sensação de continuidade do que está funcionando, bem como a fidelização do público. Não só o óbvio título, mas todas as características – o estilo híbrido, o formato conhecido dos controles joycons, a retrocompatibilidade com bibliotecas físicas e digitais – tendem a mostrar que a transição deve ser o mais suave possível.

Entendendo o mercado

Mas como explicar esta soberania em um mercado cada vez mais agressivo e caro? Como, diante de concorrentes tecnicamente mais potentes e de investimentos galáticos por parte de Microsoft e Sony, a Nintendo consegue não só se manter firme, como cultivar resultados financeiramente maravilhosos? O segredo, ao que tudo indica, está na compreensão de mercado e no reposicionamento da marca ao longo das duas últimas décadas.

Tudo pode ser analisado a partir do recorte da própria geração do já citado Playstation 2, único dentre todos os ciclos desta indústria onde tivemos quatro plataformas disputando a preferência do gamer, considerando a última atuação da SEGA no ramo de hardware com o Dreamcast, que sinceramente pereceu cedo demais; a entrada da Microsoft no setor com o seu primeiro XBox; e claro, o representante da Nintendo, o subestimado GameCube, cada qual com suas estratégias comerciais bem desenhadas, mas competindo pelo mesmo nicho de mercado.

Nintendo Switch supera 150 millhões de vendas: o que esse sucesso tem a nos dizer?

Por questões bastante complexas, o cubo da Big N não teve dias fáceis em momento algum e jamais chegou a ameaçar comercialmente o PS2 ou mesmo a novata caixa verde daquela que até então era “só” a casa do Windows, o que descambou (ao lado de outros fatores) em uma verdadeira crise de identidade para a Nintendo, o mais tradicional dentre todos os players na mesa. Estava claro que havia pouco peixe para tanto pescador e quem não se adaptasse cairia.

Tudo isso fez com que as cabeças pensantes da empresa se permitissem fugir da caixinha para encontrar um novo público que não estava sendo contemplado até então. Veio o Nintendo Wii, que prosperou onde ninguém mais havia ido, estourando a bolha bruscamente. Pessoas que jamais haviam colocado a mão em um videogame por motivos diversos viram ali algo que era acessível e fazia sentido. Mais do que seduzir quem já estava imerso neste universo, o sistema foi capaz de recriar um novo e mais diversificado público para si.

Deste modo, sem se ater à competição por poder de processamento, jogos mais sofisticados ou experiências cada vez mais especializadas, como era o foco de seus concorrentes restantes, o Wii redesenhou o mapa de quem seria seu consumidor e transformou o mundo para sempre, adentrando espaços que certamente jamais seriam alcançados de outra forma.

Nintendo Switch supera 150 millhões de vendas: o que esse sucesso tem a nos dizer?

Este novo público, entretanto, seria aquele que confundiria a Nintendo na virada de geração, que de tão diferente das demais, sequer entrou no mesmo calendário. Imprevisível seria o comportamento das pessoas quando viesse a proposta de dar o próximo passo, e a estratégia de publicidade do WiiU se provou ineficaz. Afinal, quem não estava preocupado com tecnologias de última geração não via motivos para trocar seus Wiimotes por aquele trambolho de controle com tela que parecia complicado demais.

O sucesso do Nintendo Switch

Foi então que veio a estrela desta matéria, o Nintendo Switch, que novamente simplificaria as coisas para o usuário comum, mas por sua vez traria a maior das inovações conceituais desde o NES: a convergência de toda a estratégia multiplataforma da Nintendo para um único dispositivo híbrido, capaz de atender tanto o mais casual do jogadores quanto o mais fiel fã da marca.

Este foi um movimento arriscado depois de um insucesso, mas ainda assim sólido, considerando a robustez quase monopolista da empresa no setor de portáteis, dado o tímido e instável desempenho de outras concorrentes nesse segmento. Diferente do que estava acontecendo com os consoles de mesa, a Nintendo acumulava sucessos dentre os portáteis, e o 3DS estava muito bem, já pedindo por um sucessor.

Nintendo Switch supera 150 millhões de vendas: o que esse sucesso tem a nos dizer?

Trazer esse povo todo para um modelo centralizado teria poucas chances de dar errado. Sobretudo no oriente, onde jogar num dispositivo móvel é ainda mais popular do que pelas bandas de cá. Considerando que, apesar do PSP ser querido por uma parcela significativa de pessoas, a linha mobile da Sony jamais ameaçou a fatia gorda do mercado. Conquistado ao longo de décadas pela Nintendo, que investia neste terreno desde os tempos do Game Boy, a perspectiva era mais do que favorável para esse novo passo.

Tudo isso nos leva de volta ao Nintendo Switch como o verdadeiro herdeiro do legado do Wii. E, assim, é fácil afirmar que a Nintendo se restabeleceu de vez no mundo do entretenimento não por vencer a concorrência na disputa por um mercado finito, mas por entender antes de qualquer um que havia muito mais a se almejar.

Nintendo Switch supera 150 millhões de vendas: o que esse sucesso tem a nos dizer?

Ao construir novos nichos ao mesmo tempo em que refideliza seus clientes, ela se posicionou à parte da competição, correndo por fora, mas jogando seu próprio jogo. Determinando, assim, um verdadeiro império onde ela fincou uma bandeira virtualmente inalcançável pelos demais, ao menos por enquanto.

O resultado disso tudo se tornou história. Uma história com, até aqui, 150 milhões de atestados de que a estratégia é avassaladora e tende, a não ser que a sucessão de erros de um passado recente se repita, a se manter por muito e muito tempo. O Nintendo Switch é, e posso afirmar sem qualquer receio do exagero, um dos marcos mais importantes da história da cultura pop e da indústria de games.

Nintendo Switch supera 150 millhões de vendas: o que esse sucesso tem a nos dizer?

Nada disso, vale sempre a pena ressaltar, invalida os feitos extraordinários do PS2 ou do NDS em seus segmentos e em suas épocas. Pelo contrário, só evidencia as marcas atingidas por ambos com algo significativo para todos — indústria e consumidores.

Isso se estende a dispositivos com números comparativamente mais modestos, como o Atari 2600, o NES, o Mega Drive ou o XBox 360. Mas, cada um deles criou, ao seu tempo, os checkpoints que revolucionaram a forma como vemos os videogames nos dias atuais. Números duros são só números, e o que fica é como algo desta magnitude muda as coisas.

A relevância de ser ou não, oficialmente, o console mais vendido de todos os tempos, me parece cada vez mais frágil, quase insignificante. E para você, caro leitor: faz sentido ainda ficar torcendo para um ou para outro lado desta disputa de fanbases — considerando que a própria tradição de jogos exclusivos está em xeque (ainda que não do lado da Nintendo)? O que você espera da Nintendo e do mercado daqui em diante? Haverá, um dia, algum sistema tão revolucionário que possa fazer frente aos feitos do Nintendo Switch?

Paulo Roberto Montanaro

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