O que aconteceria se a Microsoft não tivesse comprado a Rare?
Nos anos 90, a Rare foi um dos pilares fundamentais para que a Nintendo se mantivesse firme na guerra dos videogames. Apesar de existir desde os anos 80, foi com Donkey Kong Country, em 1994, que o estúdio britânico se tornou um dos mais relevantes do mundo. Na geração do Nintendo 64, também se mostrou gigante, com games como GoldenEye 007, Banjo-Kazooie, Perfect Dark e Conker.
Entretanto, em maio de 2002, aconteceu algo que, na época, deu o que falar: a Microsoft comprou a Rare, em um negócio de US$ 375 milhões. Desde então, os games da franquia da empresa passaram ao portfólio do Xbox, que envolve desde jogos novos, até clássicos que são 100% produções originais do estúdio. Perfect Dark e Banjo Kazooie, por exemplo, estão remasterizados e disponíveis até hoje nos consoles Xbox.
Mas e se a Microsoft não tivesse comprado a Rare? E se o negócio não se concretizasse, ou se a dona do Xbox nem tivesse demonstrado interesse pelo estúdio inglês? Nosso “multiverso” já imaginou um mundo sem Street Fighter 2, sem Gran Turismo e sem PlayStation. Agora vamos imaginar como seria o mundo dos games, caso a Rare não tivesse sido comprada pela Microsoft.
Ainda seria uma gigante, mas sozinha
Apesar de ainda estar vinculada à Nintendo, a Rare já não era a mesma. Entre vários elementos, podemos destacar que o estúdio já não estava dependente apenas de “encomendas” da Big N, desenvolvendo seus próprios projetos, com a Nintendo gostando ou não. Conker’s Bad For Day que o diga.
Isso mostrava que a Rare já não tinha boas relações com a Nintendo. Sempre conservadora ao extremo, a Big N boicotou de certa forma o game do esquilo, já que ele não atendia o “plano familiar” dos negócios da casa do Mario. E, ainda em 2000, como funcionários da Rare afirmaram para a Eurogamer, eles já procuravam por outros ares, tentando se desvincular da Nintendo de alguma forma.
Como sabemos, a Microsoft quem comprou a Rare. Mas poderia ter sido qualquer um que poderia ter feito o negócio. Ou a própria Rare, através de um investidor, poderia se desvincular da Nintendo e seguir sua própria vida, sem depender de ninguém. Essa possível Rare independente poderia, no início dos anos 2000 ser mais uma das muitas desenvolvedoras que aproveitaram os bons ventos da geração 128-bits.
A Rare, assim, continuaria lançando games Perfect Dark, Banjo-Kazooie e até de Conker, assim como possíveis novas séries, para PlayStation 2, o primeiro Xbox e até para o GameCube, lembrando também dos PCs. E, assim como a Capcom, a Konami ou outros estúdios faziam naqueles tempos, poderia ainda ter games específicos lançados com exclusividade, mesmo que temporária, para algum sistema.
Neste cenário, a Rare, independente para levar sua criatividade a todos, poderia ser mais uma das gigantes daqueles tempos, junto à Ubisoft, Konami, Capcom, Activision e EA, o que poderia mantê-la entre as grandes até hoje, lançando seus games para PlayStation 5, Xbox Series X|S e até para o Nintendo Switch, com o Banjo, assim como acontece no “mundo real”, participando de jogos Smash Bros.
Fique com a Rare, Nintendo!
Ainda falando em independência, tal cenário aconteceria da seguinte forma: os funcionários da Rare, descontentes com a forma a qual a Nintendo levava seus negócios, poderiam simplesmente deixar a marca na mão da Big N e, sozinhos, buscarem um novo começo.
Os irmãos Tim e Chris Stamper, fundadores da Rare, acabaram saindo do estúdio em 2007, quando a Microsoft já era a sua proprietária. Mas em um cenário o qual tal negócio nunca existiu, a saída não só dos irmãos Stamper, como de muitos outros funcionários, poderia ter acontecido muito antes. Talvez no mesmo 2002 o qual a Microsoft adquiriu o estúdio.
Começando do zero novamente, os irmãos Stamper teriam a sua equipe criativa e o prestígio para, juntos, buscarem investidores e meios de desenvolverem seus games, assim como no exemplo anterior, para todas as plataformas disponíveis. A única diferença, no entanto, seria a marca que, ao invés do lendário R de Rare, teria algum outro símbolo, fruto do novo estúdio surgido após o divórcio com a Nintendo.
Enquanto isso, a Rare, ainda “dentro da Nintendo”, seguiria ativa, lançando novos Perfect Dark ou Banjo-Kazooie, mas claramente, sem o brilho de outros tempos, uma vez que as mentes brilhantes de games passados já não estariam mais ali. O que levaria, inevitavelmente, todas estas grandes franquias para a fria geladeira dos games. Talvez Donkey Kong Country, por ser um produto Nintendo, seria o único que conseguiria “escapar” deste triste fim, sendo realocado para outro estúdio, assim como acontece atualmente.
Na Nintendo, mas infeliz
Se na Microsoft o futuro do estúdio não foi dos melhores, sendo levado de “estúdio revolucionário” para “criador de jogos de Kinect“, na Nintendo talvez a situação seria ainda mais desanimadora. Trabalhar com a sua criatividade podada é problema para os criativos, o que renderia trabalhos simplórios e abaixo do potencial. Assim como aconteceu na Microsoft, até a retomada do estúdio em Killer Instinct e Sea of Thieves.
Mas, se por um lado, a Microsoft reacendeu a Rare, a Nintendo, com seu conhecido formato de negócios, continuaria “muito perto” da Rare, evitando que um novo Conker visse a luz do dia. Talvez teríamos um novo Perfect Dark, ou até o renascimento de Donkey Kong Country no Wii, com a glória dos dias de Super Nintendo de volta. Mas, com certeza, os grandes momentos da Rare seriam menos constantes do que no passado.
Assim, como no cenário acima, a saída de diversos nomes da Rare, o que inclui os irmãos Stamper, seria inevitável.
E se fosse a Sony?
No início dos anos 2000, a Sony ainda não era a “rainha dos exclusivos”, como seus fãs adoram afirmar atualmente. Bom, na verdade a Sony já possuía seus exclusivos sim. Mas de forma diferente. Se atualmente, a Sony mantém próxima a si estúdios como a Naughty Dog, Guerrilla Games, Insomniac Games ou a Bungie, sua aquisição mais recente, nos primeiros anos de PlayStation 2, assim como no console anterior, as exclusividades vinham de estúdios parceiros.
Que, mesmo sem serem propriedade da Sony, acabavam lançando apenas em consoles PlayStation suas novidades. Caso de Squaresoft, que lançava os games Final Fantasy, a partir do sétimo título, apenas em consoles da Sony. Mas é inegável que em 2000, a Sony já estava se preparando para adquirir estúdios e iniciar o planejamento que avançou com God of War e se materializou, de fato, com seu PS3 e PS4.
Em 2000 e 2001, a Sony adquiriu, de uma só vez, a Naughty Dog, a Bend Studios e a San Diego Studio. Além de já ter em seu guarda-chuva a Polyphony Digital de Gran Turismo, e a Santa Monica, que lançaria o fenômeno God of War. O que nos faz pensar que, em uma época a qual a Sony estava de carteira aberta, a Rare poderia ter sido um dos alvos da companhia japonesa.
Elementos para justificar a compra não faltariam: a Rare estava a cada dia mais conectada com o mundo jovem, que via justamente nos consoles da Sony um catálogo mais adequado do que a “familiar” Nintendo. Além disso, a Sony já havia, no passado, atraído diversas empresas que eram mais próximas da Nintendo, como Squaresoft, a Enix, a Konami ou a Namco, que mesmo sem serem estúdios de propriedade da Sony, forneceram diversos exclusivos para o PlayStation.
Por isso, seja na condição de parceira (“ajudando” os ingleses a declararem “independência ou morte” para a Nintendo), ou comprando o estúdio, a Sony poderia fortalecer ainda mais o rico catálogo do PlayStation 2 com os games da Rare. Isso inclui, obviamente, a expansão de catálogo com o FPS de Perfect Dark, a plataforma de Banjo-Kazooie e até games novos de Battletoads. Já pensou se a Sony, nos dias de PS2, tivesse acesso direto a todos estes títulos?
Uma Rare que não volta mais
Mas, uma coisa é certa: a Rare de hoje, seja ela a que conhecemos atualmente (ou seja, propriedade da Microsoft), ou as dos cenários apresentados acima, não seria a mesma dos dias de glória na Nintendo. Talvez ela teria vida melhor na Sony, se bem administrada e se seus games cativassem os jogadores da plataforma, assim como outros exclusivos da marca.
Ainda como estúdio independente, a tendência é de que o estúdio teria dias mais felizes, com seus games chegando a diversos consoles e sistemas através dos anos. Mas, mesmo após anos de baixa na Microsoft, felizmente Sea of Thieves trouxe um pouco daquela Rare de antigamente de volta. O que nos deixa sempre na torcida para que, enfim, o legado do estúdio britânico seja mantido em forma de bons games.
Por outro lado, as saídas de figuras importantes da Rare também renderam, como no cenário da “independência”, bons frutos. Tivemos a Free Radical Design (atual Crytek UK), que trouxe TimeSplitters, e a Playtonic Games, que resgatou a essência de Banjo-Kazooie na nova série Yooka-Laylee. O que nos mostra que, mais do que o logotipo, são suas mentes que, mesmo com um game tendo o R estampado ou não, trazem uma contribuição imensa ao mundo dos videogames. Até hoje.