Voice-Chat Arkade: o valor da infâmia e o poder do marketing nos videogames
Grand Theft Auto é considerada uma das séries de jogos mais infames da indústria dos videogames, sendo adorada e odiada por sua violência gratuita e temas adultos. Mas de acordo com os criadores, toda a controvérsia foi orquestrada propositalmente por um indivíduo que foi contratado especialmente para “causar”. Mas será que a polêmica é tão impactante na hora de medir o sucesso financeiro dos jogos? Confira logo na sequência uma análise sobre como o marketing e famosa controvérsia são utilizados para os jogos aumentarem sua fama.
Em uma entrevista ao Sunday Times, os criadores dos primeiros jogos da série GTA, Dave Jones e Mike Dailly, revelaram como toda a discussão formada sobre violência em cima do jogo foi criado por um homem que planejou tudo desde o começo.
Max Clifford foi contratado pelos criadores de GTA para que ele manipulasse a mídia e criasse controvérsia o bastante para o jogo ser vendido por estes motivos. Clifford mostrou quem iria jogar, quem ele iria manipular e exatamente o que cada pessoa iria dizer assim que o jogo fosse lançado.
Todos estas afirmações se mostraram corretas e GTA foi um sucesso principalmente pela sua “má” fama de ser um jogo violento, em que o protagonista podia atropelar pessoas e ser um criminoso para ganhar o máximo de pontos possível.
Hoje em dia a série Grand Theft Auto ainda é famosa pela sua ousadia e continua sendo alvo de críticas e acusações de políticos pelo mundo: tudo isso graças aos criadores da série e a Max Clifford. Isto mostra como a mídia pode ser facilmente manipulada pelas pessoas certas, e nós, os consumidores, ainda mais.
Se alguém diz que aquele jogo é polêmico, os pais na maioria das vezes irão privar a criança de jogar, fazendo a vontade dela aumentar ainda mais afinal “o fruto proibido é muito mais gostoso”. A série GTA é somente um exemplo de marketing que deu certo. Temos vários jogos que seguem a mesma tática, desde Carmageddon e Duke Nukem até Postal 2.
Jogos desta forma funcionam primeiramente para impressionar e chocar os desavisados. O choque de sabermos que um jogo permite que o jogador utilize um carro para atropelar pessoas e ganhar mais pontos, dar gorjetas para strippers ou até mesmo chegar ao absurdo de permitir que o protagonista urine em outras pessoas cria respostas diferentes no público, mas sempre ganha visibilidade.
Estas jogadas de marketing têm como objetivo criar polêmica , gerar discussão, despertar o interesse não só da mídia, mas também das pessoas. Com isso, ganha-se em marketing espontâneo, pois todo mundo vai estar falando “daquele jogo em que você pode atropelar velhinhas indefesas“.
Claro que não podemos tirar o mérito destes jogos: Carmageddon é um jogo extremamente divertido com uma jogabilidade de corrida muito bem feita para a época. Já Duke Nukem pode ser considerado um dos primeiros protagonistas de personalidade forte no mundo dos games (não sendo apenas um par de braços empunhando uma arma), enquanto Postal 2 nos proporciona momentos de mórbido prazer todas as insanidades que ele oferece. Se isto fosse mentira não o veríamos ser aceito tão rapidamente pelo Steam Greenlight.
Assim como filmes, videogames precisam de diferentes estratégias para aumentar seu reconhecimento, seja utilizando originalidade, pura diversão, contando uma história envolvente ou simplesmente se valendo de seu lado polêmico para conseguir surpreender.
O recente Saint’s Row: The Third usou uma tática similar ao adotar um tom de humor ácido situações de jogos competindo no mesmo espaço que eles. Enquanto GTA IV aproximou uma história séria e dramática para Niko Bellic, em Saint’s Row: The Third temos missões como pular de um avião, fazer skydiving e logo depois encontrar com o mesmo avião para matar os inimigos que estão lá dentro e pegar um para-quedas, ou simplesmente bater em pessoas com seu bastão de baseball altamente sugestivo.
O melhor é que tudo isso trouxe fama para Saint’s Row: The Third, permitindo que ele finalmente perdesse o estigma de tentar ser um GTA. Isso mostra como o absurdo e polêmico pode ser de grande ajuda para uma série que precisava de inovação e identidade.
Claro que nem sempre isto dá certo: alguns jogos tentam polemizar até demais e acabam perdendo seu lugar na indústria, sendo vistos como um objeto de mau gosto.
O jogo japonês Rapelay recebeu tantas discussões por tratar de estupro, aborto e até pedofilia que teve sua distribuição inteiramente cancelada, mesmo tendo se tornado o jogo mais vendido (somente no Japão, em locais onde ele foi permitido por algum tempo).
Temos ainda a famosa modificação “secreta” de GTA: San Andreas, a Hot Coffee, que empurrou os limites do bom senso ao adicionar cenas de sexo explícito, o que fez com que o game recebesse ameaças de ser retirado das prateleiras. Existem diversos outros exemplos de games que tentam ser “rebeldes demais” e acabam queimando seu filme com a mídia e com o público.
Hoje em dia, algumas empresas tentam deixar o seu jogo mais longe possível de polêmicas que eles sabemque não irão ajudar as venda de seu produto. Há poucos anos, o reboot moderno de Medal of Honor entrou em uma polêmica acidental ao nomear os terroristas na porção do multiplayer como o grupo Al Qaeda, sendo um tema muito delicado para o público americano tão perto da verdadeira guerra acontecendo. Os inimigos acabaram sendo renomeados, a poeira baixou, e a EA evitou muita dor de cabeça.
Situação similar aconteceu com Six Days of Fallujah, um jogo que nunca conseguiu alcançar a luz do dia por querer mostrar a batalha de 2004 em Fallujah. Sua (quase) distribuidora, a Konami, decidiu cancelar o jogo antes que recebesse qualquer tipo de repúdio ou polêmica, por ” abordar um tema tão recente e impactante para a opinião pública.
O mais recente exemplo foi Assassin’s Creed III e a forma que a Ubisoft lidou com o marketing do jogo até seu lançamento: a produtora tomou certos partidos na esperança de deixar ambos os lados (ingleses e norte-americanos) felizes.
Assassin’s Creed III, como todos sabem, aponta um tema delicado da Revolução Americana do século XVIII: a liberação dos americanos contra os britânicos, deixando o nosso protagonista exatamente no meio deste conflito.
A Ubisoft mostrou como o protagonista não ficaria somente de um lado e ele tomaria parte de seu próprio grupo – os Assassinos – e para não fomentar brigas, trailers semelhantes, mas com meticulosas alterações foram divulgados para os dois países.
Na prática, Connor acaba matando tanto soldados americanos quanto britânicos, mas os trailers localizados mostravam-no mantando ingleses nos EUA e americanos na Inglaterra. Claro que a Ubisoft tomou o caminho das pedras: no primeiro vídeo, ela não mostrou sequer uma imagem de Connor matando um soldado americano, o que fez muita gente assumir que ela estaria 100% ao lado dos americanos. A partir daí a empresa direcionou seu marketing, para evitar novas confusões.
Assim a Ubisoft reafirmava que seu jogo tratava de um tema à parte: a história de Assassinos vs. Templários que remonta à épocas ancestrais mas desta vez teria a Revolução Americana como pano de fundo. Considerando que ela é uma empresa francesa, possivelmente ela não tinha partido nenhum nesta “guerra”, mas sabiamente optou por ficar “em cima do muro” para evitar estresses desnecessários.
Depois de tantas ações diferentes feitas por empresas de videogames, vemos como a polêmica é um instrumento de marketing extremamente poderoso até hoje, tanto para a indústria quanto para a mídia e finalmente para nós, os consumidores. Seja escondendo ou intensificando determinados aspectos de um jogo, a infâmia, o “boca-a-boca” e a opinião pública ainda têm muita força na hora de aclamar ou derrubar uma franquia.
E você, o que acha? Compraria um jogo por ele ser polêmico, ou prefere não se deixar levar pela mídia (e pelas polêmicas) e simplesmente joga, buscando formar sua própria opinião? Deixe sua opinião nos comentários!