Já assistimos: Esquadrão Suicida, o divertido longa que também é um desperdício de evolução dos filmes DC
Os piores heróis do mundo já estão quase sendo soltos para suas missões suicidas. E eles chegam com uma expectativa enorme, seja dos fãs dos quadrinhos, que já conhecem os personagens, ou do espectador que, embora não saiba quem seja o Crocodilo, curtiu a proposta e quer conferir esse filme de heróis sem heróis.
O Esquadrão Suicida foi um sucesso nos quadrinhos, com várias missões que gerou até uma animação bem interessante. Mas agora é hora de introduzir vários vilões no universo cinematográfico da DC, que já nos apresentou Batman, Superman e a Mulher Maravilha, e terá muito mais pelos próximos anos. A proposta de apresentar um filme com vilões como o centro da história, a ponto de reinventar o Coringa e a Arlequina, é ousada, mas ao mesmo tempo senstata: chegou a hora de explorar tais personagens pelas suas próprias características, e não apenas como secundários, quando encaram a sombra de Batman e acabam “tendo que perder”, para seguirem com o cronograma natural dos filmes de herói. Aqui, o mal também tem vez! Por isso, vamos ver se eles conseguiram cumprir com as expectativas e o hype criado.
A evolução friamente calculada da DC
A DC, juntamente com a Warner Bros., parece que tem um plano muito bem orquestrado quanto ao seu universo cinematográfico. Se isso vai resultar em sucesso ou fracasso, o futuro nos dirá, mas podemos perceber que cada detalhe foi milimetricamente colocado, seja para introduzir um público alheio ao universo dos personagens, ou para explicar ao fã dos quadrinhos as razões de certas situações, nos ambientes dos filmes.
Dito isto, sim, Esquadrão Suicida tem um papel importante neste projeto, não sendo apenas mais um filme de personagens, mas oferecendo uma boa evolução, continuando o que já foi começado com os outros longas, mas nos guiando aos próximos filmes, seja dos longas com heróis solo, seja da Liga da Justiça. Porém, ao assistir ao filme, percebemos uma intenção maior nesta função de “continuar um universo”, do que trazer algo novo.
Temos aqui “mais um passo”, que nos guia para os próximos filmes, mesmo que de maneira forçada. A aventura poderia fluir naturalmente sem nenhuma referência aos heróis, o que inclui o Batman, mas até que para todo um universo, citá-los vale a pena.
Sem surpresas, com desperdício de material humano
Esquadrão Suicida não quer reinventar a roda, muito menos ser o melhor filme de heróis já feito. Podemos dizer que sua existência se deve a dois fatores principais: a possibilidade de se explorar melhor personagens interessantes, como o Crocodilo ou o Pistoleiro, e oferecer uma certa liberdade em sua concepção, já que vilões naturalmente são imprevisíveis e agem de maneira mais intensa do que os nobres heróis da Liga.
Mas é uma pena ver um potencial deste porte ser desperdiçado em um enredo simplório, mais preocupados em trazer ação a todo instante (e ação é o que não falta aqui, ao contrário do filme do Batman), do que em escrever histórias interessantes. O que começa como uma introdução — apressada — de cada personagem, termina como um filme de ação genérico, que não justifica a presença dos personagens ali. O que Batman vs. Superman pecou ao querer explicar tudo nos seus mínimos detalhes, Esquadrão Suicida pecou por fazer o caminho inverso, ao querer jogar tudo de uma vez na cara do espectador, para injetar cenas e mais cenas de explosão, pancadaria e tiroteio.
O filme tem sim bons efeitos especiais e ótimas cenas de ação, todas no já conhecido tom sombrio dos filmes da DC, incluindo os que ainda virão. Mas é só. David Ayer não quis inventar moda, mas também não trouxe nada de novo, oferecendo uma aventura a qual o público em geral irá vibrar com os combates, mas que faz “só isso”. Por isso, não espere muitas surpresas nem um enredo ousado ao assistir o filme, pois sairá do cinema decepcionado. Referências também se fazem presentes, mas de maneira limitada.
E algo que decepciona muito é o tipo de missão a qual o Esquadrão se submete. Estamos falando de bandidos comuns, que apesar de contarem com habilidades especiais, não são exatamente aqueles que chamaríamos nos momentos de dificuldades apresentados, e nem as razões explicam os acontecimentos da história. Um Esquadrão que lidasse com situações mais condizentes com o modus operandi de cada membro poderia gerar situações muito mais agradáveis.
Pelo menos a Warner e a DC não cederam como um todo as pressões do público, ao não transformar o seu Esquadrão em um filme com piadinhas a todo momento. Nada contra a Marvel, que usa e abusa de humor em seus filmes, só que o tom mais ameno e os momentos de humor deste longa está na medida para os filmes da DC, e servem para mostrar o seu posicionamento firme de “não copiar o Homem de Ferro”. Se isso vai dar certo ou não, vai depender do público, mas pelo menos já mostraram que não vão mexer muito em sua estratégia.
Não é um filme da Arlequina. Nem do Coringa.
Com os trailers e o carisma de Margot Robbie como a Arlequina, poderíamos achar que o filme centralizaria nos seus coloridos cabelos o tempo todo. Não é assim. Embora ela chame os holofotes para si o tempo todo, seja pela personagem, seja pelo seu talento, o filme deixa claro que é sobre o Esquadrão. Cada personagem tem o seu momento no filme, que, embora sofreram com uma apresentação bem rápida e simples, vão se evoluindo, na medida do possível.
E também não é um filme do Coringa. Jared Leto até tenta, mas não consegue ser o Coringa que todos esperamos, e nem por culpa da tatuagem ou de sua nova apresentação. O problema é que colocar um personagem como o Coringa apenas como coadjuvante atrapalha muito, e Leto não se mostra confortável em nenhum momento na pele do vilão, por mais que tenha tentado. As diferenças ficam ainda mais evidentes nas cenas em que ele aparece junto da Arlequina, por mostrar o abismo de profundidade entre as interpretações de cada um. Não é o pior Coringa já feito, ele é até aceitável em alguns momentos, mas a mística que temos com o vilão é trocada por ações de um típico playboy, trocando sua insanidade por uma irresponsabilidade juvenil.
Viola Davis e Will Smith também são pontos fortes, com boas atuações. Amanda Waller pode ser considerada uma das melhores personificações deste universo cineatográfico, com uma postura muito forte e idêntica a suas outras personificações, seja nos quadrinhos, ou nas animações. Já o Pistoleiro, mesmo que de maneira involuntária, acaba por ser o “maior inimigo de Batman“, com a chance do público conhecer muito mais de sua vida e motivações. Assim como a Mulher Maravilha em BvS, o Pistoleiro pode aparecer tranquilamente em um próximo filme do Batman.
Mas o mesmo não podemos falar dos outros membros do Esquadrão. Com exceção de um El Diablo e um ou outro momento bacana do Crocodilo, o restante, o que inclui a Magia, e Rick Flag, “ajudam” muito a enfraquecer ainda mais a produção. Só para não cometer injustiça, Cara Delevingne manda bem como a vilã, ela apenas sofre por contar com um texto ruim para a personagem.
Os piores heróis do ano!
https://www.youtube.com/watch?v=30tU57q842Y
Esquadrão Suicida não se trata de um filme ruim, pois oferece boas cenas de ação, traz músicas legais e tem seus bons momentos, geralmente patrocinados pela Arlequina, sendo até injusto pegar muito pesado com ele nas críticas. Mas não espere nenhuma história profunda, nem um bom aproveitamento de todos os vilões apresentados. A chance que a DC teve de criar uma história paralela ao seu novo universo cinematográfico foi perdida, ao aceitar o comodismo de uma produção blockbuster.
O filme estreia no dia 4 de agosto, em todos os cinemas do país.