Análise Arkade: Endling – Extinction is Forever, um jogo para nos fazer refletir

29 de julho de 2022
Análise Arkade: Endling - Extinction is Forever, um jogo para nos fazer refletir

De vez em quando, surgem jogos capazes de emocionar o jogador, e conseguem nos fazer refletir sobre os problemas do mundo real. Endling – Extinction is Forever, é um desses jogos.

Em busca de segurança

Endling – Extinction is Forever é um jogo de exploração e sobrevivência 2.5D que já começa tenso. Acompanhamos uma raposa que precisa fugir da mata em que vive por conta de um terrível incêndio que está destruindo tudo em seu caminho.

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Ferida e cansada, a raposa consegue arrumar uma toca relativamente segura… e aí vem a surpresa: ela estava prenha. Ao amanhecer, temos quatro simpáticas raposinhas para cuidar… ou não, pois uma delas logo é raptada por um homem misterioso.

É aí que o jogo começa de verdade: todas as noites, vamos sair da toca em busca de comida para os filhotes, e de pistas sobre a raposinha que foi levada. Conforme o tempo passa, os filhotes crescem, e passarão a nos acompanhar em nossas viagens.

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Filhotinhos <3

Se não ficou claro neste resumo, Endling – Extinction is Forever é um jogo bem “bad vibes”. Sua premissa é pesada, e sua jornada não tenta ser “divertida”, nem mascarar que o intuito do game é passar uma mensagem séria sobre a forma com que tratamos nosso planeta e as criaturas que nele vivem.

Por exemplo: um dos lugares pelos quais vamos passar é um matadouro. E ali dentro, acompanhamos praticamente todo o processo que transforma um animal vivo em um alimento.

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Repare nas carcaças dos frangos penduradas

Claro que ver isso na vida real deve ser ainda mais perturbador… mas, se a raposa não entende direito o que se passa ali, para nós, jogadores, “animais racionais” que somos, a mensagem é bem clara.

Farejando o mundo

Nos arredores de nossa toca improvisada, um mapa relativamente grande e expansivo se revela. De início, teremos muitos caminhos bloqueados e áreas inacessíveis. Mas, quanto mais exploramos, mais longe podemos ir. O ciclo de dia e noite do jogo dita o tom da aventura.

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Endling estabelece sua rotina, seu loop de gameplay, bem rapidamente. Nossa exploração sempre é feita durante a noite, pois de dia há mais humanos por todo canto, e — pasme — eles não são bonzinhos. Um medidor nos mostra quanto tempo falta para o amanhecer, e o ideal é que estejamos de volta à toca antes do sol nascer.

Encontrar comida para os filhotes é sempre prioridade. A habilidade de farejar nos permite encontrar rastros (verdes) que nos levarão até diferentes tipos de alimentos. Podemos pescar, caçar pequenos roedores, colher frutas, ou mesmo vasculhar restos de comida no lixo — nem sempre isso é uma boa ideia: podemos acabar nos enroscando em uma sacola, o que afeta a saúde da raposa.

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Há um medidor de fome que ilustra quão cheia está a barriga dos filhotes. Acredito que eles possam morrer caso passem muito tempo sem comer ou sejam atacados por predadores, mas isso não aconteceu no meu jogo, então não sei até que ponto perder algum filhote afeta a narrativa.

Por falar em narrativa, em certas noites vamos nos deparar com outros rastros aromáticos (de cor rosa). Estes são os rastros do sujeito que levou nosso filhote embora.

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Seguindo esses rastros, vamos entendendo, aos poucos, o que aconteceu, e montando o quebra-cabeça que nos coloca cada vez mais perto de descobrir o paradeiro da quarta raposinha.

Explorando e Evoluindo

As fontes de comida não se regeneram em Endling – Extinction is Forever. Isso quer dizer que um lixo que você já revirou, ou um lago onde você já pescou, não vai ter comida novamente na próxima noite. Isso nos obriga a nos afastarmos cada vez mais, irmos cada vez mais longe.

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Ocasionalmente você encontrará caçadores, armadilhas e predadores. Evitar todos eles é essencial, pois você pode acabar se ferindo (ou mesmo morrendo). Encontrar rotas alternativas, se esconder em arbustos, evitar áreas iluminadas ou passar “de fininho” são atitudes que poderão ajudá-lo a sobreviver. O mundo de Endling é hostil e impiedoso, então seja cauteloso.

Com o tempo, os filhotes também vão acabar passando por situações que lhes concederão habilidades úteis, como cavar buracos, escalar ou se espremer para passar por fendas apertadas.

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Como estes eventos são individuais, pode acontecer de um filhote desenvolver uma habilidade e os outros não, o que gera “situações-puzzle” interessantes: se um filhote pode se espremer por uma cerca e os outros não, você terá que se virar para encontrar uma rota alternativa, pela qual todos possam progredir.

Esse senso de evolução é intessante, ainda que aconteça de forma inconstante e não altere drasticamente o ritmo do jogo. De vez em quando, pontos de interesse vão surgir pelo mapa, podendo revelar novos caminhos ou simplesmente algum evento curioso. A curiosidade de querer se arriscar para explorar o mapa pode render surpresas interessantes.

Audiovisual

Endling – Extinction is Forever adota uma estética que convencionou-se chamar de “low poly” para entregar um visual que não é deslumbrante, mas é competente. As paisagens do jogo têm um charme melancólico, e as animações de movimentação da raposa são muito fluídas e realistas.

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Visualmente, a paleta de cores é o que mais chama a atenção: o incêndio do começo da jornada é vibrante, ardente, mas logo é substituído pelos tons frios das noites de vigília, ou pelo céu azul abafado quando o tempo começa a esquentar. As cores realmente “dão o tom” do que acontece no jogo.

Por falar em tom, a música aqui é bastante incidental, minimalista, e surge basicamente para potencializar momentos dramáticos. De resto, o que vamos ouvir é o uivo do vento, o som de nossos próprios passos na neve e diversos outros barulhinhos que contribuem com a imersão.

Conclusão

Embora apresente uma jornada que possa parecer bonitinha em uma primeira olhada, não se engane: Endling – Extinction is Forever é um jogo pesado, dolorido. Um jogo que nos faz refletir sobre o impacto que as ações do homem têm sobre a natureza. E essa é uma história que, infelizmente, não tem como ter um final feliz.

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É um tema corajoso e espinhoso, e apresentar tudo isso do ponto de vista de uma pobre raposa que foi expulsa do seu habitat deixa tudo ainda mais chocante, mais visceral. É impossível não se sentir incomodado com tudo o que acontece.

Se, em termos de gameplay, o jogo não traz nada que seja realmente único ou inovador, é na força de sua mensagem que ele realmente se destaca. Se arte é aquilo que causa algum tipo de reação nas pessoas (mesmo que negativa, tipo raiva ou nojo), temos aqui um grande exemplo de videogame que é arte — e não se importa de incomodar.

Endling – Extinction is Forever está disponível para PC, Playstation 4, Xbox One e Nintendo Switch. O jogo possui menus e legendas em português brasileiro.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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