Análise Arkade – Nunca foi tão divertido sofrer como um camponês lascado como em Kingdom Come Deliverance 2

Um jogo no qual você começa ele literalmente com uma mão na frente e uma atrás. Sem dinheiro, e com todos no vilarejo olhando você torto. A busca por comida, no começo, é tão difícil quanto alguns chefes e o descanso em um local onde você não acordará preso parece mais complicada do que parece. Ganhar dinheiro de forma honesta é quase impossível, e resolver seus problemas idem. Se você tentar resolver na conversa, terminará humilhado, e se quiser ir no braço, a surra é certa.
Estes são os relatos de um dos melhores games do ano, e olha que estamos em fevereiro e tem muita coisa boa (assim espero) para chegar ainda. Sim, é muito bom sofrer em Kingdom Come Deliverance 2.
O “simulador de camponês”, também conhecido como um RPG “raiz” de mundo aberto, segue muito do game original de 2018, mas agora com mais “carne”, com o feedback da comunidade. E ensina, com letras garrafais, como é possível produzir um game grande em 2025, mas que traga real diversão. E sem ideias tola de senhores feudais dos games, que insistem em estragar experiência em nome de um monte de coisa, que não seja o simples prazer de se jogar um bom game.
Bem vindo de volta à Idade Média

Kingdom Come Deliverance 2 te coloca novamente na pele de Henry, mas o que ele construi na aventura anterior deveria ser “resetado” de alguma forma, para justificar uma nova jornada. E é isso o que o jogo faz, logo após sua introdução, onde o game ensina o jogador como se jogar. Henry sai de um pelourinho, vestido como um mendigo, sem dinheiro e com a reputação de um desconhecido no meio de uma terra de ninguém. Pois, apesar de ainda estar na Boêmia, ele está em uma outra região do reino, na qual nada do que ele é ou tenha a dizer interesse por ali.
Assim, lá vamos nós começar a nossa jornada, que envolve tanto a história principal quanto a nossa história particular. E aqui você já nota que estamos falando de um game diferenciado, pois você vai resolver tudo aqui, da sua forma, do seu jeito e no seu tempo. Por exemplo: você começa o jogo sem ter onde dormir, sem dinheiro e sem roupas, então como vai conquistar roupas melhores? Procurando emprego, que vai demandar mais tempo e muita conversa, ou simplesmente dando um jeito de roubar uma casa, e um traje para você.

Mas, assim como a descoberta da melhor forma para se aventurar no game, o jogador também aprende que tudo o que fizer terá consequências. A Idade Média não era uma época “sem lei”, e tudo o que você fizer, para o bem ou para o mal, terá repercussão. Por exemplo, se o morador da casa que você roubou a roupa te ver “ostentando” o traje, vai comunicar para as autoridades. Ao passo de que, se você presenciar um crime e denunciar para as autoridades, representada no game pelo meirinho, uma espécie de juiz-prefeito daqueles dias, ganhará respeito.
Como um game feito por um estúdio tcheco, a Warhorse continua a entregar uma experiência muito bem feita do que era a Idade Média, na Boêmia. Na época, o local que hoje é a República Tcheca, era parte do Sacro Império Romano, e tinha cultura, ciência, questões diplomáticas e militares próprias, todas muito bem representadas, de forma realista até demais, mas sem deixar de lado a diversão. Trata-se de um jogo como Shenmue, mas sem toda aquela burocracia de horários que os jogos clássicos tinham, e com mais liberdade para se explorar e construir sua jornada.
Pois Henry ainda precisa, além de arrumar um emprego de ferreiro, fazer poções ou ajudar pessoas (ou roubá-las) pelos vilarejos, combater o Sacro Imperador Romano Sigismundo, que realmente governou o local no século XV, e seus aliados. Por isso, o jogador terá que visitar vilarejos, descobrir as fofocas nas tavernas, conversar com pessoas e fazer muita, mas muita coisa, para seguir rumo ao seu objetivo, enquanto desbrava sua jornada pessoal no processo.
Devagar e sempre, do jeito certo

Em dias de jogos acelerados, Kingdom Come Deliverance 2 puxa o freio, literalmente, do gameplay. Na Idade Média tudo acontecia de forma mais devagar, em comparação aos nossos dias, e é assim que o game acontece. Viajar de um vilarejo a outro, a pé, é uma jornada lenta, que se torna melhor com um cavalo.
Mas prepare-se para jogar, por horas, apenas para completar uma simples missão de buscar um item num local do mapa, e levar para outro local. Sim, existe viagem rápida, desbloqueada quando você chega em determinados locais, mas até estas devem ser usadas de forma estratégica, e podem ser interrompidas por uma emboscada, alguém precisando de ajuda, ou alguém que quer apenas conversar.
Entendo que mecânicas e formas de se fazer um jogo não são “certas ou erradas” em si, mas a forma a qual são utilizadas fazem a diferença. Sempre fui crítico da forma a qual o tempo foi utilizado em The Last of Us 2 ou God of War, pois transformaram jogos com tradicionais 8-10 horas de gameplays em histórias que enchem muita linguiça e ampliam seus tempos de jogo da forma errada, especialmente com muita caminhada sem sentido. Os Assassin’s Creed da “era do RPG” também eram enormes em exagero, para manter o jogador ativo, com muitas missões e tarefas desnecessárias. Gostei destes games, mas reconheço tranquilamente este exagero.
Mas Kingdom Come Deliverance 2 faz isso da forma correta. Primeiro, porque o jogo é um título de nicho, ou seja, feito para quem realmente quer jogar jogos desta forma. E segundo, porque a “lentidão” do jogo faz total sentido com a forma “Idade Média” de se fazer as coisas. O mundo do game, por exemplo, é grande, mas não insuportavelmente grande, que desmotivaria a exploração. E, durante sua caminhada (ou cavalgada) para determinado local poderá ter encontros inesperados, o que deixa tudo bem interessante.

Além disso, a forma em que se evolui no jogo é lenta e muito interessante. Obviamente, como em todo RPG, você evoluirá fazendo coisas, mas num ritmo mais “humano” do que outros games. Você continuará podendo usar, e aumentar, para resolver as questões do jogo, a Oratóra, o Carisma e a Intimidação, agora somadas também por Aparência, Coerção e Dominação. Isso significa que, para resolver as coisas no jogo, do jeito preferido (na conversa, na violência ou na malandragem), você poderá trabalhar melhor estas questões.
Roupas finas te darão mais respeito e facilidade de se impor com Carisma e Aparência, enquanto uma roupa suja de sangue aumenta a sua Intimidação. Roupas mais silenciosas, embora fracas em proteção, não fazem barulho, perfeitas para invadir locais sem ser visto.
Enquanto um bom tempo de luta com espada (ou no braço) te fará um ótimo lutador. Inclusive, os combates não são grandes em número, mas ótimos em realismo. As lutas com espadas exigem mais do que “esmagar botões”. Enquanto armas de fogo da época são potentes, mas exigem um tempo de recarga lento (e real). Arcos e bestas também tem suas formas peculiares de uso, e tudo isso garante que, ao menos no começo, mais dificuldade para os combates, até você evoluir e pegar o jeito.
Como um ótimo RPG que se preze, você que irá decidir como “ser você” na Idade Média, e saberá investir o seu tempo da melhor forma possível, para se divertir da forma mais adequada para você.
Tocando a vida de forma completa

Os aspectos que podem ser evoluídos no game são prova de que o game é muito completo, na evolução de seu personagem. E o “simulador de vida da Idade Média” que é Kingdom Come Deliverance 2 é muito completo. Cada missão, cada tarefa e cada exploração influenciam no jogo, como dito, mas a sua construção de personagem é muito completa também.
Você terá que administrar um monte de coisa, além dos níveis. As roupas e armaduras, por exemplo, não devem apenas estar em boas condições, mas também limpas e bem cuidadas, para que tenham um melhor desempenho no jogo e melhorem sua reputação. A comida e o sono são fundamentais para você não só se manter vivo, mas também conseguir realizar longas jornadas sem cair desmaiado no caminho (e provavelmente ser roubado).
Vai ter que trabalhar para levantar dinheiro (eu, por exemplo, adorei minha profissão de ferreiro). Ou sair procurando pelos tesouros do jogo (ou simplesmente roubar, com suas consequências). Ou ainda se tornar um caçador, profissão proibida, mas lucrativa. E terá que treinar, e muito, com a sua espada, para que você possa combater mais e melhor. Seu fiel cachorro, o Vira-Lata, também pode te ajudar na jornada, procurando recursos e ajudando na briga, e até a sua montaria a cavalo poderá ser melhorada, para que você não caia do animal por qualquer coisa.

Sim, tem muita coisa para se fazer no jogo, mas vai por mim, não é nada chato. E, para quem quer resolver as coisas na conversa, pode ler livros e conversar com todos os NPCs que puder, para ampliar sua eloquência. O interessante é que o save, embora seja menos “automatizado” do que outros jogos, salva o game em vários arquivos. O que permite, assim, que você possa retornar ao save anterior e melhorar sua resposta ou se preparar mais para um combate ou uma conversa.
Isso tudo em uma Boêmia realmente linda. Não acho que é um dos jogos mais bonitos mais feitos, mas é, com certeza, um dos mais detalhados. Apenas fiquei “um pouco menos feliz” pelo game não ter suporte ao Dolby Vision nos consoles Xbox, mas isso não faz muita diferença, no final. As vilas, os castelos, as roupas, armas e personagens, tudo é feito com uma riqueza de detalhes. Que mostram, assim, que a Warhorse seguiu investindo alto no estudo da Idade Média. Para trazer um game que realmente traz uma visão mais próxima de como realmente era aquela época da história.
E isso deixa o nosso “simulador de vida” ainda mais interessante. Pois evoluir o seu personagem dentro de contextos, visuais e históricos, muito próximos ao real, deixa a imersão ainda mais interessante. E faz, assim, uma simples jornada de um vilarejo a outro, ou em um castelo, valer a pena.
Melhor jogo do ano? Não importa, mas espero que seja o melhor jogo para você!

Desde que Kingdom Come Deliverance 2 chegou, muita gente começou a declarar que ele seria o “GOTY” de 2025. O que pra mim, não importa nem um pouquinho. Realmente não ligo e não me importo com este título inventado pela mídia e indústria. Pois acredito que os melhores jogos são aqueles que agradam seus jogadores. Que entregam experiências únicas para, assim, satisfazer aqueles que investiram seu dinheiro no projeto.
Pelo mesmo motivo, não dou notas em meus reviews e muito menos digo se ele “vale a pena” ou não. Pois quem tem que decidir isso é você, conhecendo o game, ouvindo opiniões a respeito e experimentando por si só o jogo e sua proposta. Eu não sou ninguém para decidir por você a compra de um jogo. Mas fico feliz, em toda review, em compartilhar minhas experiências e vivências. Para que, assim, possa ser útil em sua decisão e que, somado a outros reviews ou conversas que tenha, possa decidir por jogar este, e outros games.
E, por isso, assim como eu tenho me divertido muito conhecendo os vilarejos e personagens deste game, espero que você também possa estar curtindo muito. Realmente adorei jogar Kingdom Come Deliverance 2, embora saiba que este não é um jogo feito para todo mundo. Sua progressão lenta vai agradar a apenas alguns tipos de jogadores. E recursos mais “limitados” (de propósito, aliás), como o jeito de se salvar, vai desagradar jogadores mais “desesperados”.

É incrível, pois eu não falei das situações inesperadas que aguardarão você, não falei dos encontros, das reviravoltas de missões, das várias formas de realizar, e pode ser que eu acumule mais de 100 horas neste game, sem descobrir tudo o que ele tem para oferecer. E isso é impressionante e digno de todos os elogios. Elogios estes que estão em falta na atual indústria de jogos, infelizmente. Fugir “dos iguais” é o que fará, inclusive, este jogo ser mais conhecido e experimentado até por quem não seria, no início de tudo, seu público principal.
Entretanto, enfim, desde Red Dead Redemption 2, encontrei um game dos chamados AAA que realmente me dá prazer de simplesmente “jogar”, sem nenhuma invenção de moda que veio de mesa de executivos que não jogam videogame e não se importam com os games como forma de cultura, e com ideias úteis e criativas, que fazem valer a pena passar horas e horas, apenas andando e explorando a bela Boêmia.
Se você gosta de jogos com uma forte imersão, muita coisa para se fazer, mas que consegue ser divertido e muito bacana de se jogar, poderá aproveitar Kingdom Come Deliverance 2. O game está disponível neste momento, no PC, PlayStation 5 e Xbox Series X/S.
Inclusive, se você decidir comprar o game, pode comprar o seu na Nuuvem, para a Steam. O Arkade recebe uma pequena comissão na venda do game, e você nos ajudará a continuarmos a produzir conteúdo de qualidade, todos os dias. Para comprar, basta visitar este link.
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