Análise Arkade: Missile Command Recharged é o retorno de um clássico da Atari

30 de maio de 2020
Análise Arkade: Missile Command Recharged é o retorno de um clássico da Atari

Enquanto algumas empresas gastam milhões de dólares para reapresentar suas franquias ao público através de remakes (e reboots) grandiosos, outras optam por um caminho mais simples, mais purista. É o caso da Atari, que entrega com seu Missile Command Recharged uma experiência bastante similar à que experimentamos no bom e velho Atari 2600.

O Missile Command original era um jogo de arcade, lançado originalmente em 1980 — isso mesmo, há 40 anos. Em 1981, a própria Atari levou o jogo para seu console doméstico, o Atari 2600. Ele foi um dos primeiros jogos do console, e apesar de simples, podia se tornar bem viciante.

A premissa de Missile Command sempre foi simples: nossa missão é impedir que os projéteis inimigos destruam uma pequena cidade. Fazemos isso disparando nossos próprios mísseis, cuja explosão leva junto as bombas inimigas antes que nos atinjam.

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Enquanto nos arcades o jogador tinha o controle de 3 torres de defesa, no Atari 2600 havia apenas uma torre central. Este Missile Command Recharged que chega em 2020 traz novamente 3 torres para comandarmos, e, salvo o visual mais “moderno”, mantém praticamente intacta a simplicidade do jogo clássico.

Vou até deixar screenshots comparativas para você não dizer que estou exagerando:

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Esse é o jogo de arcade
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Esse purismo vale para o bem e para o mal. O lado bom é que o jogo segue pautado exclusivamente por suas mecânicas, sendo tão aditivo e potencialmente viciante quanto ele já era nos anos 80. O lado ruim é que não há um fiapo de história, nem multiplayer, nem nada muito “moderno”. Há leaderboards globais e power ups, mas, tirando isso, este “novo” Missile Command Recharged ainda é, em sua essência, um jogo de arcade de 4 décadas atrás.

Jogatina retrô

O gameplay segue sendo tão simples que ainda poderia usar o controle do Atari, composto apenas de uma alavanca e um botão: controlamos uma retícula de mira que passeia pela tela, e um projétil é lançado no exato lugar onde ela estava posicionada quando pressionamos o botão.

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Na verdade, há um toque “moderno” que quase pode ser ignorado: os 3 botões de baixo do controle (Y, B e A no Switch) disparam os mísseis das torres respectivamente à esquerda, ao centro ou à direita da tela. Saber disso é útil para coordenar múltiplos disparos simultâneos, mas não é vital nem transforma a experiência de jogo. E, embora cada torre tenha sua própria munição (que não acaba de fato, mas há um breve cooldown entre os disparos), o jogo costuma ser inteligente para utilizar a torre que está mais próxima do retículo de mira caso o jogador use sempre o mesmo botão.

A dinâmica ainda é a mesma: você não precisa acertar o projétil inimigo com seu disparo (haja mira para isso!), mas deve antever a descida dele para que o raio da explosão do seu míssil exploda junto o tiro inimigo… e o jogo todo é pautado basicamente por isso: exploda os mísseis inimigos com seus próprios mísseis.

Tipo assim, ó:

O Missile Command clássico era um jogo dividido em fases, que iam ficando gradativamente mais difíceis. O novo jogo muda esse formato, e se apresenta com partidas infinitas do tipo “vá o mais longe que conseguir”. Caso a cidade toda seja destruída, é Game Over, e se você conseguiu um placar razoável, vai para as leaderboards.

Power Ups

Talvez o componente mais moderno do jogo não seja nem a classificação online, mas os power ups e upgrades. Os primeiros aparecem durante as partidas na forma de caixas flutuantes que passam voando pela tela. Exploda-as e garanta um benefício temporário.

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Aquela caixinha com um R passando é um power up

É sempre a mesma caixa, mas a letra dentro dela muda qual será o efeito. A letra B, por exemplo, ativa uma bomba que limpa quase toda a tela de projéteis inimigos. A letra S coloca um escudo sobre cada prédio da cidade que dura até ele (o escudo) tomar um tiro. A letra M aumenta por alguns segundos o raio de explosão dos seus disparos, permitindo que um único míssil acabe com vários tiros inimigos. Há outras letras, com buffs temporários que diminuem a velocidade dos projéteis inimigos, aumentam a velocidade dos seus ou acabam com o cooldown por alguns segundos.

A forma como a duração destes efeitos é apresentada é bem engenhosa: uma camada extra de cor preenche a tela, e vai descendo, como uma cortina. Enquanto suas torres estiverem “dentro” desta nova cor, os power ups estão valendo. Isso deve durar no máximo uns 5 segundos, mas se bem utilizados, esses segundos são cruciais!

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Essa linha cor de rosa é a “cortina” do power up descendo

O outro tipo de power up é um upgrade permanente: você troca seus pontos acumulados por 4 tipos de melhorias que continuarão com você para sempre. É possível ir aumentando gradativamente o raio da sua explosão, diminuir o tempo de cooldown entre os disparos, aumentar a velocidade de respawn das suas torres e a própria velocidade dos mísseis.

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Obviamente, a cada nível os upgrades ficam mais caros

É legal termos power ups temporários e upgrades permanentes no jogo para dar um temperada em uma experiência que, ainda assim, tende a se tornar repetitiva. Sem outros modos de jogo nem nada do tipo, o que vai motivá-lo a continuar jogando (ou não) não é a leaderboard online, mas sua competição consigo mesmo, para bater seus próprios recordes. Esse tipo de desafio típico dos arcades single player talvez não seja mais tão interessante nos dias atuais, mas é no que a Atari segue apostando.

Audiovisual

Aqui há um minimalismo colorido de néon que deixa clara a intenção de manter a estética dos jogos originais. Tudo é simples, sem muitos detalhes ou firulas. Esteticamente, é uma releitura bastante precisa da experiência original, com uma “skin de néon”… se isso é um elogio ou uma crítica, aí vai do gosto do jogador.

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Tudo aqui segue o minimalismo como regra. A música do menu inicial meio que se transforma na música da partida, ou seja, há apenas uma música, ou duas versões da mesma música, que se alternam conforme o momento. Os efeitos sonoros obviamente são melhores do que os dos anos 80, mas ainda são bastante simples, com barulhinhos específicos que servem para condicionar o jogador a reconhecer os disparos mais diferentões do arsenal inimigo por seus sons únicos.

O jogo começa em inglês, mas há opção de deixar toda a interface em português brasileiro. Porém, no Switch, sempre que você abre o jogo de volta, ele está em inglês. Não sei se é um bug, mas né, em um jogo sem história, sem diálogos, sem nada, jogar em inglês nem chega a ser um problema.

Conclusão

Eu admiro o apego que a Atari tem por suas IPs. Esta não é a primeira vez que ela “atualiza” um de seus clássicos mantendo o core da experiência intacto e botando um pouquinho de néon aqui e ali. Em 2018, Tempest 4000 fez a mesma coisa e Battle Zone saiu bem pouco da “zona de conforto”. E, mesmo o recente Pong Quest, que transforma o clássico Pong em um RPG, gira em torno da mecânica básica do jogo original.

Apesar disso, esta abordagem levanta questionamentos: será que esta é a melhor forma de apresentar seus clássicos às novas gerações de players? Será que não valia a pena ir pouco além, colocar “um pouco mais de água no feijão”, para transformar um título clássico em algo maior, com mais apelo para os dias atuais?

Análise Arkade: Missile Command Recharged é o retorno de um clássico da Atari

Sinceramente, não sei se há uma resposta satisfatória para essas perguntas. Depende muito do purismo dos fãs e do que eles esperam de um “novo jogo” feito em cima de um jogo antigo, e já questionei em mais de uma oportunidade até onde deve ir “a irretocabilidade dos clássicos”.

O fato é: eu até me diverti na minha primeira meia hora com Missile Command Recharged, mas ele rapidamente se tornou repetitivo demais para mim, tendo apenas um modo de jogo, e mais nada. A competição comigo mesmo (ou com as leaderboards) definitivamente não tem, para mim, o apelo que tinha na época em que os videogames ainda estavam nascendo. E para você?

Missile Command Recharged foi lançado em 27 de maio para PC e Nintendo Switch (versão analisada) por um precinho super camarada. O jogo também está disponível para iOS e Android.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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